segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Que professor sou eu?

Que professor sou eu?


Quando assumi meu papel de professor no ambiente escolar carregava um monte de sonhos e desejos de acompanhar, de conduzir meus alunos pelos caminhos do conhecimento. Para isto, fui em busca de novos saberes e nessa trajetória muito aprendi com meus mestres. No dia a dia com os alunos não é diferente. E, na junção desses saberes que se construíam, enquanto professor percebi que muitas das coisas iam além do ensinar a educação formal, que era necessário se fazer presente na realidade dos mesmos. Nesse momento entra tudo o que aprendi no que diz respeito à afetividade. Um atendimento essencial na atualidade uma vez que os alunos chegam cada vez mais carentes nesse quesito.
Essa condição se mostra tão presente face às mudanças sociais contemporâneas – pais separados, filhos criados por avós, mães que inseridas no campo de trabalho já não se fazem presentes na vida dos filhos, etc. Outra condição especial na educação atual é a presença de professores do sexo masculino nas salas de aula no ensino fundamental séries iniciais. Estes acabam por ficar visado e exposto porque passaram a ser aquela referência masculina que hoje está em falta nas famílias aqui ilustradas. Dessa forma, há um apego muito grande dos alunos com seus professores e, os mesmos devem fazer valer seu papel social enquanto educador para levar seus alunos ao conhecimento e também atendê-los de forma a prepará-los para esta sociedade que ora se apresenta.
Neste ponto as coisas tendem a se complicar uma vez que, socialmente falando, há um medo generalizado frente às situações que envolvem, hoje em dia, as crianças e adolescentes quanto aos abusos cometidos por pessoas de má índole. Tais pessoas podem estar inseridas em qualquer esfera social. Daí entende-se todo esse medo.
Porém, para esclarecer estas situações é preciso que os pais conheçam os professores de seus filhos, bem como os pediatras, os padrinhos, os representantes de igrejas nas quais congregam, enfim, buscar vivenciar tudo que acontece que esteja relacionado às crianças.
No entanto, não pode ocorrer de forma alguma, é a deturpação, o descrédito e outras formas de coerção àquele que está ali para levar conhecimento, ensinar e preparar as crianças para o enfrentamento desta nossa nova sociedade. O professor não pode ficar refém das atrocidades que ocorrem no meio social. Há que se entender que este profissional quando vestido de seu papel social abre mão desse caráter de gênero – o masculino – para ser o professor, aquele que conduz seu aluno rumo ao processo de ensino-aprendizagem.
Apesar de todos os conhecimentos recebidos através de estudos, palestras e capacitações há ainda por parte da escola o medo de lutar para que essa forma de ensinar e receber os alunos sejam praticados. É preferível manter distância, fingir que não está vendo, não se abrir para essa nova realidade que recebe todos os anos no teu seio. Quando o professor se coloca a trabalhar com esses novos paradigmas, acaba sofrendo o preconceito social que continua vivo e inserido no meio escolar. Onde fica o amparo para que o mesmo se mostre como provedor dessa nova maneira de ensinar e que não seja confundido com pessoas vis? Como será nosso aluno se não formos capazes de romper com esse padrão e nortear nosso trabalho, nosso papel de educador rumo a uma sociedade mais humanizada e preocupada com o próximo?
Uma coisa sabemos: não é normal ver que em muitos países desenvolvidos acontecem tragédias em escolas devido a esse desajuste social que apresentam, que não há uma relação mais terna e fraterna entre essas crianças, bem como, devido ao distanciamento, esses professores não são mais vistos como deveriam e por um outro lado não se comportam como tal.
Que professor serei eu se não puder sê-lo em essência, em verdade? Não posso querer ser tão somente um profissional cumpridor de jornadas de trabalho, um transmissor de regras gramaticais e sentenças matemáticas. Tais prerrogativas já não servem porque os computadores e seus programas sofisticados, já o fazem com maestria.

Professor Laudemir Monteiro Silva - 38 anos anos, formado em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Regente em salas de 3ª e 4ª série do ensino fundamental.



Importante saber:

“As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e de dores”. Claudio Saltini

“É imprescindível ver o aluno como ser individual, pensante que constrói o seu mundo, espaço e o conhecimento com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, sua crítica, sua imaginação, seus sentidos...

A afetividade no ambiente escolar contribui para o processo ensino-aprendizagem considerando uma vez, que o professor não apenas transmite conhecimentos, mas também ouve os alunos e ainda estabelece uma relação de troca. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, expondo opiniões, dando respostas e fazendo opções pessoais.
É importante destacar que a afetividade não se dá somente por contato físico; discutir a capacidade do aluno, elogiar seu trabalho, reconhecer seu esforço e motivá-lo sempre, constituem formas cognitivas de ligação afetiva, mesmo mantendo-se o contato corporal como manifestação de carinho.”
Lucilene Tolentino Moura – Mestranda em Ciências da Educação

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